Lendo o livro de DOMINIQUE WOLTON: PENSAR A COMUNICAÇÃO resolvi escrever apontamentos sobre algumas de suas idéias. Foi possível estabelecer algumas relações com leituras anteriores e trabalhos desenvolvidos ao longo da profissão como professora, especialmente um trabalho com o jornal no ano de 2003. Espero com isso, possibilitar aos colegas de profissão mais um disparador para nossa discussão acerca das relações que perpassam educação e TICs.
Dominique Wolton, sociólogo francês, aborda em seu livro a relação entre comunicação e sociedade na pós-modernidade realizando um recorte nos anos finais do século XX e início do XXI, os quais são marcados pelo triunfo da comunicação fortemente tencionada pelas ambigüidades relacionadas ao informar e comunicar. Seu livro se fundamenta em vinte anos de pesquisa sobre comunicação e sociedade relacionadas por meio da televisão, política, cultura, jornalismo e novas tecnologias.
A concepção que perpassa por todos esses campos é a de que existem limites em todos os meios de comunicação, e que, por si só não resolvem os problemas de comunicação dos homens. Nesse enfoque, a palavra comunicação recebe três sentidos: direta, técnica e social, tendo estes em comum a interação, sendo esta crescente à medida que salta da direta para a técnica e desta para a social.
Ao considerar que ninguém é exterior à comunicação, que ninguém está distante dela e que a interação/comunicação se amplia ao se aproximar do seu enfoque social, as idéias do autor, se aproximam das idéias de FREIRE e VYGOSTY , visto que, reiteram o caráter social e cultural do homem nesse processo. Além de envolver o caráter cultural, a comunicação é permeada pelo envolvimento com a técnica e com a economia sendo uma mais visível e a outra mais perigosa, segundo o autor.
Estabelecendo relação entre os apontamentos acerca da comunicação na atualidade, Wolton considera que há uma concepção dominante e outra minoritária. Diante dessas concepções, a comunicação relacionada à educação acaba por receber influencias da concepção dominante no sentido de que é nela que se alicerça o enfoque nos meios como, por exemplo, o entendimento de que o computador salvará a educação, ou seja, a tecnologia compreendida como solução, esquecendo-se de investir nos professores. Sendo esta amplamente disseminada em relação à concepção minoritária, que estabelece a relação da dimensão humana da comunicação, tem-se nela o maior desafio. Nesse aspecto, faz-se interessante citar a problemática por ele levantada: “Como salvar a dimensão humanista da comunicação, quando triunfa sua dimensão instrumental ?” (p. 28)
Responder tal problemática com profundidade requer muito aprofundamento acerca da questão, todavia pode-se arriscar apontando para o papel da escola, apoiada por políticas públicas sérias e não partidárias, na articulação para o enfrentamento da triunfal dimensão instrumental. A possibilidade de enfrentamento fundamenta-se nos princípios da sociedade democrática ou da comunicação pontuada pelo autor: liberdade, igualdade, solidariedade, comunicação e alteridade. Tais princípios apontam para a escola a (re) construção e (re) significação de seu papel compreendendo que o currículo possibilite a comunicação e não apenas a transmissão, o uso dos meios como parte do processo, professores e alunos como construtores de saberes, gestão democrática da escola, do saber e, portanto a abertura da escola.
Ao referir-se à escola, fala-se de professores, professoras, alunos e alunas, pais, mães e comunidade em relação com o mundo em que se vive. Reiterando, BARBERO (2001), salienta a necessária modificação de toda a organização linear para a em rede ou com conexões, portanto uma nova cultura escolar.
Ao se reportar ao papel do professor e da escola, compreendida em seu caráter progressista, FREIRE (1997, p. 157) deixa bem clara a reflexão que deve perpassar o fazer pedagógico sob o viés da comunicação relacionada às mídias mais especificamente a televisão: “O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o amanhã já está feito. Tudo muito rápido. Debater o que se diz e o que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo cada vez mais importante. Como educadores e educadoras progressistas não apenas não podemos desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, discuti-la. Não temo parecer ingênuo ao insistir não ser possível pensar sequer em televisão sem ter em mente a questão da consciência crítica. É que pensar em televisão ou na mídia em geral nos põe o problema da comunicação, processo impossível de ser neutro. Na verdade, toda comunicação é comunicação de algo, feita de certa maneira em favor ou na defesa, sutil ou explícita, de algum ideal contra algo e contra alguém, nem sempre claramente referido”. Justamente, na consciência crítica e não neutralidade que se encontra a brecha para articulação acerca das ambigüidades entre os dois sentidos da comunicação: a normativa e funcional. A dimensão normativa da comunicação compreende a vontade de compreensão mútua por meio de regras, códigos e símbolos. Visa intercambiar, compartilhar e compreender-se. Portanto dimensão de ação com e no mundo como afirma FREIRE (1997) e diretamente relacionada à educação. Para WOLTON: “Nenhuma técnica de comunicação, por mais eficiente que seja jamais alcançará o nível de complexidade e de cumplicidade da comunicação humana. Em outras palavras, existe uma margem de manobra, uma capacidade crítica que não poderá jamais ser destruída, porque ela tem suas raízes na dimensão antropológica da comunicação”. (p.35) Já a dimensão funcional está diretamente ligada à comunicação das economias, troca de bens e serviços ligada a eficácia e interesses. Reitera-se que ambas as dimensões estão interligadas. Enfim, o processo de comunicação assim como o de educação é permeado por contradições e tensões perenes...